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Alan Fernandes, presidente do Haitong no Brasil: maior proximidade entre companhias chinesas e projetos no país
Após o desembarque no Brasil em 2015 com a aquisição das operações globais do Banco Espírito Santo Investimento (Besi), o chinês Haitong almeja se tornar o principal elo entre empresas e investidores da China e projetos locais, especialmente ligados a energia.
A instituição acaba de concluir a redefinição do seu perfil de atuação no país, com destaque para três grandes áreas. A primeira é a de banco de investimento, com foco em fusões e aquisições, mercado de capitais, assessoramento de empresas nos estudos de viabilidade de concessões e o financiamento dos projetos. A segunda área é chamada de mercados, com uma mesa proprietária de atuação local e estruturação de produtos de hedge, derivativos, câmbio e certificado de operações estruturadas (COEs). O terceiro pilar, ainda em andamento, se resume na criação de fundos de investimentos para trazer recursos a serem investidos localmente.
Com a integração e a reestruturação de seu modelo de negócios, o Brasil ganhou relevância dentro da instituição financeira pelo tamanho e presença estratégica na América Latina. A chegada dos chineses aconteceu na contramão do movimento de outros bancos de investimento, que reduziram a participação no país durante a crise política e econômica. O cenário complicado, no entanto, tem criado oportunidades de investimento para empresas chinesas e espaço para a instituição financeira avançar.
As oportunidades são vistas sobretudo em infraestrutura, energia, agronegócio e mineração e a ideia do banco é fazer a ponte, conta o presidente no Brasil, Alan Fernandes. "Iniciamos a implementação de uma série de ações que estão resultando, sobretudo no Brasil, na maior proximidade das companhias chinesas dado o interesse pelo país", conta. No fim de 2016, o Haitong tinha R$ 8,76 bilhões em ativos totais no Brasil e um lucro líquido de R$ 19 milhões.
Com o foco renovado, Fernandes afirma que a fila de operações está em crescimento e a estratégia é usar a marca forte da instituição para apoiar e trazer companhias. "Estamos traduzindo para as empresas chinesas o que é atuar no Brasil, ao mesmo tempo em que estamos em contato com os potenciais sócios brasileiros para mostrar como funcionam os trâmites de aprovação de investimentos na China", afirma o executivo.
No ano passado, o Haitong assessorou a Pengxin na aquisição da trading e processadora de grãos Fiagril, do Mato Grosso. Outra operação que está prestes a ser concluída com a assessoria do banco é a compra de participação no consórcio liderado por Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, para a construção do Sistema Produtor São Lourenço, da Sabesp.
Mas a menina dos olhos das empresas chinesas é o setor de energia. No último leilão de transmissão, o banco trabalhou com a EDP, que tem a China Three Gorges (CTG) como acionista. Foi feito todo o trabalho de assessoria na modelagem financeira e estudo de viabilidade do leilão e agora o funding está sendo estruturado.
Essas operações recentes já mostram a cara que o Haitong terá por aqui - pouco uso do balanço para operações de crédito e muita assessoria financeira. Até 2015, na estrutura portuguesa, o uso do balanço e a disponibilidade para tomar risco eram maiores, mas a crise e a aquisição levaram à mudança para uma postura mais conservadora. As operações de empréstimo devem ser apenas de curto prazo, no máximo de um ano e meio, usadas enquanto o financiamento de longo prazo é montado.
Outra maneira de trazer o funding para os projetos é por meio de parcerias com bancos multilaterais chineses, como o China Development Bank, e fundos de investimento soberanos. O Clai Fund (Fundo Chinês para Investimento na América Latina), o Clac (China Latin America Cooperation Fund), o CPD (China Portuguese Development Fund) e o CIC (China Investment Corporation) são alguns fundos com os quais a Haitong fez parceria para levar oportunidades de financiamento, estruturação de projetos ou aquisição de ativos no Brasil.
"O Besi foi o caminho para o Haitong atingir rapidamente a internacionalização", conta. A aquisição do banco português foi concluída em setembro de 2015 e levou a Haitong Securities, um dos maiores bancos de investimentos da China, para fora do continente asiático. Até então, a atuação era basicamente concentrada na China continental, Hong Kong, Cingapura, Macau e Malásia.