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Com a compra do português Espírito Santo, o banco de origem chinesa mira o mercado brasileiro. E as apostas serão altas
O banco português Espírito Santo ruiu de maneira fragorosa em agosto de 2014 e algumas de suas partes foram vendidas. Uma das atividades saudáveis, o banco de investimentos, foi adquirido no dia sete de setembro por € 379 milhões (R$ 1,64 bilhão) pelo banco de investimentos chinês Haitong. Quem?
Não se espante se você não conhece essa instituição financeira fundada em Hong Kong, em 1973, como Haitong Securities. Atuando inicialmente como corretora, ele transformou-se em um banco de investimentos tradicional.
Sempre atuou no mercado chinês. Desde 1997, quando Hong Kong se integrou à China, ele expandiu suas atividades pelo país. Tem 4,6 milhões de clientes individuais, 12 mil clientes institucionais e escritórios em 240 cidades. As demonstrações financeiras mais recentes informam que o banco tem 80 bilhões de dólares de Hong Kong em ativos (R$ 41 bilhões) e lucrou R$ 1,07 bilhão nos seis primeiros meses do ano.
A compra do Espírito Santo representa uma guinada. Após a transação, o banco transferiu sua sede para Lisboa. O “novo” executivo chefe é José Maria Ricciardi, ex-presidente do banco de investimentos português. “O objetivo dos novos controladores é claro, eles querem converter o Haitong em um banco global de investimentos”, diz o português Rafael Valverde, outro egresso do Espírito Santo, CEO do Haitong Brasil.
Escritório do Haitong, em Hong Kong: corretagem e gestão de recursos em todo o território chinês
Para Valverde, a aquisição representa uma nova oportunidade deste lado do Atlântico. “O Espírito Santo entrou no Brasil há 20 anos e nesse período tivemos tempo de conhecer bem o mercado brasileiro, aprendemos o que se deve e o que não se deve fazer”, diz ele. A estratégia é a clássica: gerir fundos, conceder empréstimos estruturados para empresas e financiar o comércio exterior entre Brasil e China. “As economias são complementares e há oportunidades na assessoria de empresas chinesas que busquem oportunidades por aqui.”
“Há muitas oportunidades nas empresas chinesas.” Rafael Valverde, CEO do Haitong no Brasil
Não será fácil. Valverde reconhece que a crise do Espírito Santo no ano passado, a intervenção e a troca de comando afetaram duramente os negócios da instituição financeira. A meta, diz ele, é obter uma rentabilidade patrimonial de 15% ao ano em média. Em 2014, o retorno sobre o capital investido foi quase nulo, de apenas 0,2%. “Precisamos melhorar isso”, afirma.
Conseguirá? A comparação com o conterrâneo HSBC é inevitável. No entanto, quem conhece o mercado avalia que as situações são diferentes. “Bancos de investimento são muito mais maleáveis do que os de varejo, é mais fácil mudar a estratégia”, diz um banqueiro.
Há outro ponto a favor do Haitong. Segundo o economista Roberto Troster, especializado no sistema financeiro, os bancos chineses melhoraram muito sua gestão ao longo da última década.
“Eles se abriram mais para o mercado financeiro internacional e incorporaram boas práticas”, diz Troster. “As autoridades chinesas sabem que a manutenção do crescimento econômico acelerado passa por um aprofundamento da internacionalização da economia, e os bancos são um dos pilares desse processo.”
Para sustentar o crescimento, Valverde diz pretender ampliar tanto a oferta de produtos do banco quanto sua presença geográfica. Hoje localizado apenas em São Paulo, o Haitong planeja abrir de seis a oito filiais nas principais cidades brasileiras.
Potência Oriental
Conheça o banco Haitong, que vai disputar o mercado brasileiro
Fundação: 1973, em Hong Hong
Clientes de Varejo: 4,6 milhões
Aquisição do Banco Espírito Santo: 2015
Atividades: corretagem de valores, investimentos e gestão de fundos
Clientes de Atacado: 12 mil
Presença Internacional: Brasil, México, Estados Unidos, Portugal, Reino Unido
Em IstoÉ Dinheiro
por Cláudio Gradilone